O ano de 2020 começou desafiando o mundo. O surgimento da Covid-19, e a sua disseminação pelo mundo, deixou todos em estado de alerta, e com medo.
O medo, aliás, é uma emoção básica e, em doses adequadas, necessário e protetivo para o ser humano. Ele sinaliza ameaças, prepara o corpo e a mente para o enfrentamento ou para alternativas de evitação (reação de luta ou fuga) e otimiza esforços em busca de uma ação direcionada a situação que o desencadeou.
Quando o medo é desproporcional à ameaça, quando está descontextualizado ou quando é permanente ou de grande intensidade, pode trazer dificuldades relacionadas a um estresse orgânico (sintomas físicos) e mental (sofrimento psíquico). “Isso pode acontecer quando nos deparamos com situações novas e potencialmente assustadoras, quando não conhecemos muito bem o perigo que nos espreita ou quando temos um limiar baixo para sintomas ansioso”, explica o professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), psiquiatra e diretor da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Lucas Spanemberg.⠀É o caso, claro, da Covid-19.
A pandemia, como as catástrofes, ativam de modo intenso o medo da morte, a percepção de que somos todos iguais no risco de perda da sobrevivência. O medo do contágio é o medo de ficarmos doentes e, em instância mais derradeira, o de não sobrevivermos. E isso é sempre uma possibilidade avassaladora dentro de nós, explica a médica psiquiatra Betina Mariante Cardoso. “Esse medo é instintivo e, no caso do novo coronavírus, existem outros medos como o de ter que enfrentar tudo isso de forma solitária, como adoecer e não podermos estar com os nossos familiares no acompanhamento da doença em função do risco de contágio. São muitos medos juntos que têm no seu fio principal o medo da não sobrevivência. Não é pouca coisa o que estamos vivenciando como humanidade”, relata a especialista.